A Poesia e As árvores
António
Consideremos
o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.
Geometria que
respira errante e ritmada,
varandas verdes, direções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.
Um murmúrio
de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.
António Ramos Rosa
António
Cada árvore é um ser para ser em nós
Para ver uma árvore não basta vê-la
a árvore é uma lenta reverência
uma presença reminiscente
uma habitação perdida
e encontrada
À sombra de uma árvore
o tempo já não é o tempo
mas a magia de um instante que começa sem fim
a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas
e de sombras interiores
nós habitamos a árvore com a nossa respiração
com a da árvore
com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses
Alberto
[...]
Metafísica? Que metafísica têm aquelas
árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
[...]
Alberto Caeiro
Cesário
(...)
As azeitonas, que nos dão o azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos - ossos nus, da cor do leite,
E os cachos de uvas - os rosários de olhos.
(...)
Cesário Verde
Eugénio
São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas - irmão dos pássaros -,
perder-me no ar.
Eugénio de Andrade
Eugénio
Também o deserto vem
do mar. Não sei em que navio,
mas foi desses lugares
que chegaram ao meu jardim
as palmeiras.
Com o sol das areias
em cada folha,
na coroa o sopro
ainda húmido das estrelas.
Eugénio de Andrade
Manuel
uma árvore é um anjo
um anjo lenhoso, altamente inflamável,
de alto a baixo prometido
a um incêndio que a si mesmo se combatesse
uma árvore é um anjo na terra
um anjo que está sempre a enraizar-se
e a erguer-se a poder de braços
Uma árvore conhece pouco
das nossas maneiras de lutar
e morrer; por isso:
uma árvore é e não é um anjo
Manuel Gusmão,
Miguel
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.
Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
Miguel Torga
Olavo
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
Olavo Bilac
Ricardo
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.
Passamos e
agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.
Tentemos
pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.
Inutilmente
parecemos grandes.
Salvo nós
nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?
Ricardo Reis
António
As árvores crescem sós. E a sós florescem.
Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.
As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua .
Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.
António Gedeão
Edgar(d)
A árvore amiga é sempre mais amiga
Se no próprio quintal nasce e viceja.
Se ela viveu conosco, se ela abriga
Uma saudade, uma ilusão que seja.
Se ela, serena, assiste à insana briga
Da Natura, que os raios lhe despeja,
E em troca dá-nos frutos, por que siga
Os destinos de paz que tanto almeja.
Naquele amado e místico recanto...
Sim, a felicidade ficou lá
- E aqui minha alma se desfaz em pranto!...
Foi no Belém do meu... do meu Pará
Que deixei o meu pai - herói e santo -
E a minha árvore amiga do Araçá!...
Edgard Rezende
Florbela
É Primavera agora, meu Amor!
O campo despe a veste de estamenha;
Não há árvore nenhuma que não tenha
O coração aberto, todo em flor!
Ah! Deixa-te vogar, calmo, ao sabor
Da vida... não há bem que nos não venha
Dum mal que o nosso orgulho em vão desdenha!
Não há bem que não possa ser melhor!
Também despi meu triste burel pardo,
E agora cheiro a rosmaninho e a nardo
E ando agora tonta, à tua espera...
Pus rosas cor-de-rosa em meus cabelos...
Parecem um rosal! Vem desprendê-los!
Meu Amor, meu Amor, é Primavera!...
Florbela Espanca
Natália
Quando um ramo de doze badaladas
se espalhava nos móveis e tu vinhas
solstício de mel pelas escadas
de um sentimento com nozes e com pinhas,
Menino eras de lenha e crepitavas
porque do fogo o nome antigo tinhas
e em sua eternidade colocavas
o que a infância pedia às andorinhas.
Depois nas folhas secas te envolvias
de trezentos e muitos lerdos dias
e eras um sol na sombra flagelado.
O fel que por nós bebes te liberta
e no manso natal que te conserta
só tu ficaste a ti acostumado.
Natália Correia
António
A Árvore, em pé, no meio das planuras,
cheia de riso e flor, verduras, passarinhos,
- Ela é o guarda-sol dos frutos e dos ninhos.
- É o tecto nupcial das conversadas puras.
O humilde cavador que foiça as ervas duras
dos broncos matagais e escalrachos maninhos,
sob ela faz o seu leito, ao cruzar os caminhos,
torrado da soalheira ou nas sombras escuras.
Contudo, o Homem ingrato esquece a Árvore amiga
e prefere a Cidade e a balbúrdia inimiga,
onde a alma corrompe em orgias triviais.
Mas a Árvore lá fica, a espreitar nas ramadas
como a mãe lacrimosa, a olhar sempre as estradas
- a ver se o filho volta à cabana dos pais!
António Gomes Leal
Jorge
Na minha terra, não há terra, há ruas; mesmo as colinas são de prédios altos com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores. As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês, e a Câmara tem máquinas especialíssimas para desenraizar as árvores.
Os cânticos das aves - não há cânticos, mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º. E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros, que são todos na Pérsia ou na China, ou em países inefáveis. A minha terra não é inefável. A vida da minha terra é que é inefável. Inefável é o que não pode ser dito.
Jorge de Sena
Fernando
Como um vento na floresta,
Minha emoção não tem fim.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.
E como entre os arvoredos
Há grandes sons de folhagem,
Também agito segredos
No fundo da minha imagem.
E o grande ruído do vento
Que as folhas cobrem de som
Despe-me do pensamento:
Sou ninguém, temo ser bom.
Fernando Pessoa
é primavera -
sobre a montanha sem nome
névoa da manhã
-----
a montanha move-se
e entra pelo jardim -
sala de verão
-------
as flores abrindo
no vento da primavera
como gargalhadas
------
é maravilhoso:
sobre as jovens folhas verdes
o brilho do sol
-----
é a cor do vento -
as plantas em confusão
no jardim de outono
-----
vento do inverno -
escondeu-se entre os bambus
e amainou
Matsuo Bashô (poeta japonês - pequenos poemas - haiku)
Alberto
[...]
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
[...]
Alberto Caeiro
António
No lugar da árvore. No lugar do ouvido.
No lugar do chão. Unidade crepitante
no silêncio aberto no Trânsito. Tronco, calma
bomba indeflagrável, dádiva da identidade.
António Ramos Rosa
Alexandre
Na profusão dos gestos, a presença: a figueira.
Merecia ir à piscina tomar banho, a figueira.
Merecia mais que muita gente,
que, semovente,
passarinheira,
não passa afinal de estar à beira.
Com seus braços,
nadaria, ao mesmo tempo, em todos os sentidos,
seria a presença inteira
(e nunca, meu Deus!, a D. Maria
ou a D. Fernanda Figueira...)
- Generosa figueira,
quando estiveres doente quem te deita?
Alexandre O´Neill,
Carlos
a cada ramo
de árvore
uma asa.
E as árvores voam.
Mas tornam-se mais fundas
as raízes da casa,
mais densa
a terra sobre a infância.
É o outro lado
da magia.
Carlos de Oliveira
Fernando
(...)
Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos!...
Fernando Pessoa
Florbela
Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol postonte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
-Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
Florbela Espanca
Luís
Árvore, cujo pomo, belo e brando,
natureza de leite e sangue pinta,
onde a pureza, de vergonha tinta,
está virgíneas faces imitando;
nunca da ira e do vento, que arrancando
os troncos vão, o teu injúria sinta;
nem por malícia de ar te seja extinta
a cor, que está teu fruito debuxando.
Que pois me emprestas doce e idóneo abrigo
a meu contentamento, e favoreces
com teu suave cheiro minha glória,
se não te celebrar como mereces,
cantando-te, sequer farei contigo
doce, nos casos tristes, a memória.
Luís de Camões
Octávio
Cresceu em minha
fronte uma árvore.
Cresceu para dentro.
Suas raízes são veias,
nervos suas ramas,
Sua confusa folhagem pensamentos.
Teus olhares a acendem
e seus frutos de sombras
são laranjas de sangue,
são granadas de luz.
Amanhece
na noite do corpo.
Ali dentro, em minha fronte,
a árvore fala.
Aproxima-te. Ouves?
Octávio Paz
Pedro
Árvore
Cresce e vem do fundo da terra
ou do fundo do tempo.
Sobe para um céu
que afinal não conhecemos.
No intervalo há vida
- e também ela cresce:
nela se encerra
o que somos e temos;
e se desvela o véu.
Pedro Tamen
Mia
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto
Ricardo
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
Ricardo Reis
Gastão
São plátanos palmeiras castanheiros jacarandás amendoeiras e até as oliveiras que quando a noite cai na infância formam uma cortina escura na estrada frente à casa árvores apagando os dias que a memória avidamente esconde
no corpo do seu gémeo Penetra inutilmente na terra essa raiz do branco plátano adolescente e o campo do tempo onde as palmeiras eram pilares do corpo nu símbolo de si mesmo, à luz do dia fixo, já se estende
na húmida manhã dos castanheiros Esquecimento que tudo enfim possuis e geras a ofuscante luz igual à da memória, do tempo como ela filho, construtor da ausência, em vão te invoco Tu
que mudas a roxa amendoeira em brancas flores do jacarandá entrega a minha vida às árvores que foram na manhã e no crepúsculo no meio-dia e na noite, palavra clara que traz o dia em si fechado
Gastão Cruz
Armindo
Os sobreiros sonham
Sonhos desvairados,
que só os pastores
e as pedras suspeitam.
Sonham que são livres
e vão pelo mundo,
com raízes de água
e cabelos soltos.
No céu par lavrar,
as nuvens são cardos
e o sol um milhafre
que esvazia os olhos.
Dos sonhos só resta
a angústia que os ousa.
A angústia é concreta.
Os sonhos são sombras.
Seguros à terra
com garras de bronze,
os sobreiros sonham
impossíveis rumos.
Armindo Rodrigues
Ondjaki
A Borboleta no Úcua
uma borboleta acordou a manhã
e a manhã ficou lilás.
a manhã contaminou o imbondeiro de lilás
e o imbondeiro quiz ser uma borboleta.
só as raízes do imbondeiro não aceitaram a brincadeira.
as raízes são muito terra-a-terra
-são uma cauda teimosa.
a borboleta fugiu.
a manhã aqueceu-derretendo o lilás.
e foi então:
o imbondeiro* pôs no mundo
múcuas tristes.
*no úcua, os imbondeiros tristes vertem lágrimas lilases.isto tem o seu quê de borboletismo...
Ondjaki (Ndalu de Almeida)
Francisco
Árvore
Quando eu morrer hás-de ficar.
Hás-de ver o passar doutras Estações.
Hás-de ouvir as canções
De uns outros ninhos, noutras Primaveras.
Junto de ti, meu filho há-de sonhar
Minhas antigas, fúlgidas quimeras.
Árvore
Quando eu morrer, hás-de falar
De mim, que te plantei.
E, em cada ramo novo que brotar,
Serás um gesto meu a perdurar:
- Por ti, não morrerei ...
Francisco Bugalho
José
Não há muito que ver nesta paisagem:
Alagadas campinas, ramos nus
De salgueiros e choupos eriçados:
Raízes descobertas que trocaram
O natural do chão pelo céu vazio.
Aqui damos as mãos e caminhamos,
A romper nevoeiros.
Jardim do paraíso, obra nossa,
Somos nele os primeiros.
José Saramago
Olavo
Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...
(...)
Olavo Bilac
António
Ouve, meu Filho: cheio de carinho,
Ama as Árvores, ama. E, se puderes,
(E poderás: tu podes quanto queres!)
Vai-as plantando à beira do caminho.
Hoje uma, outra amanhã, devagarinho.
Serão em fruto e em flor, quando cresceres.
Façam os outros como tu fizeres:
Aves de Abril que vão compondo o ninho.
Torne fecunda e bela cada qual,
a terra em que nascer: e Portugal
Será fecundo e belo, e o mundo inteiro.
Fortes e unidos, trabalhai assim...
- A Pátria não é mais do que um jardim
Onde nós todos temos um canteiro.
António Corrêa d'Oliveira
Vitorino
A árvore do silêncio
Se a nossa voz crescesse, onde era a árvore?
Em que pontas, a corola do silêncio?
Coração já cansado, és a raiz:
Uma ave te passe a outro país.
Coisas de terra são palavra.
Semeia o que calou.
Não faz sentido quem lavra
Se o não colhe do que amou.
Assim, sílaba e folha, porque não
Num só ramo levá-las
com a graça e o redondo de uma mão?
(Tu não te calas? Tu não te calas?!)
Vitorino Nemésio
Sophia
José
Há lá renda que se assemelhe
A este tecido de árvores no Ar...
(hei de pedrir à Maria Keil para as pintar.)
Árvores do jardim do Aqueduto
Sem flor nem fruto
Nem nada de seu...
Só este azul de pássaros a cantar
Que vai da terra ao céu.
José Gomes Ferreira
Eugénio
Somos como árvores
só quando o desejo é morto.
Só então nos lembramos
que dezembro traz em si a primavera.
Só então, belos e despidos,
ficamos longamente à sua espera.
Eugénio de Andrade
Rubem
Todo o jardim começa com um sonho de amor.
Antes que qualquer árvore seja plantada
ou qualquer lago seja construído,
é preciso que as árvores e os lagos
tenham nascido dentro da alma.
Quem não tem jardins por dentro,
não planta jardins por fora
e nem passeia por eles.
Rubem Alves
Alberto
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há ideias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.
(...)
Alberto Caeiro
Eugénio
Este poema começa no verão,
os ramos da figueira a rasar
a terra convidavam a estender-me
à sua sombra. Nela
me refugiava como num rio.
A mãe ralhava: A sombra
da figueira é maligna, dizia.
Eu não acreditava, bem sabia
como cintilavam maduros e abertos
seus frutos aos dentes matinais.
Ali esperei por essas coisas
reservadas aos sonhos. Uma flauta
longínqua tocava numa écloga
apenas lida. A poesia roçava-
me o corpo desperto até ao osso,
procurava-me com tal evidência
que eu sofria por não poder dar-lhe
figura: pernas, braços, olhos, boca.
Mas naquele céu verde de Agosto
apenas me roçava, e partia.
Eugénio de Andrade
Nuno
Onde está a antiga nogueira cujas raízes
entravam pela água? Sei que os seus ramos se partiam
de cada vez que o ribeiro enchia; que as folhas
se espalhavam pelo tanque, antes de se afundarem,
formando um lodo em que os pés escorregavam;
que o barulho das rãs ecoava na sua copa, enquanto
a noite se agitava com o vento frio que trazia
o outono. Mas de nada me serve este conhecimento,
agora que nada me diz se a nogueira existe, ainda,
nessa margem onde me sentei, ouvindo as rãs
e o vento, sem que me apercebesse do trabalho do tempo
no fundo das raízes. Ou antes: o que ele me dá é
uma inquietação áspera como o sabor das nozes
que se colhiam dessa árvore. Atiro-as para o armazém
da memória onde as sombras se acumulam; e
entro nessa árvore, como se fosse uma casa,
ou como se as suas ramagens se abrissem
num bater de asas impotentes para o voo.
Nuno Júdice
Matilde
O jacarandá florido
Brando cantar trazia
Branda a viola da noite
Branda a flauta do dia
O Jacarandá florido
Brando cantar trazia
O vinho doce da noite
A água clara do dia
Quem o olhava bebia
Quem o olhava escutava
O jacarandá florido
Que o silêncio cantava
Matilde Rosa Araújo
Fernando
Lá fora onde árvores são
O que se mexe a parar
Não vejo nada senão,
Depois das árvores, o mar.
(...)
Fernando Pessoa
Abílio
Há Cameleiras a florir
Já cheira a Primavera
São lembranças acrescidas
Do meu tempo de quimera.
Vêem-se campos floridos
Como peixes em cardume
Com aspeto festivo
Pela beleza e perfume.
Há árvores cheias de Amor
Que nos dão o seu sorriso
Vestem fato tricolor
Para cumprimentar o amigo.
As aves com o seu sorriso
Todas alegres em coro
Cantando ao desafio
Acasalando em namoro.
Formam um casal lindo
De entreajuda e paixão
Unidas fazem o ninho
Para os filhos que virão.
É tão alegre esse Cante
De manhã ao acordar
Pedindo que me levante
E com elas partilhar.
Abílio Pinto
Fernando
Árvore
Conheço as suas raízes. É tudo o que vejo.
Há um movimento que a percorre devagar. Não sei
se ela existe. Imagino apenas como são os ramos,
este odor mais secreto, as primeiras folhas
aquecidas. Mas eu existo para ela. Sou
a sua própria sombra, o espaço que fica à volta
para que se torne maior. É assim que chega
o que não passa de um pressentimento. Ela compreende
este segredo. Estremece. Comigo procuro trazer
só um pouco de terra. É a terra de que ela precisa.
Fernando Guimarães
Manuel
As Árvores
Árvores, bem hajam elas,
Pelos frutos que nos dão,
Pela sombra no verão,
As árvores, que são tão belas.
Dão-nos frutas deliciosas
De sabores variados,
Que nos deixam deliciados,
As árvores, que são formosas.
Enfeitam jardins e praças,
As ruas e avenidas.
E às cidades dão vida,
As árvores, com a sua graça.
E p´ra o mundo respirar,
São elas que nos sustentam,
E as nossas vidas alentam,
As árvores, que nos dão ar.
Exalando mil odores,
Elas servem-nos de abrigo,
Criando um ambiente amigo,
As árvores, com suas flores.
Dão madeiras valiosas,
Lenha p´ra nos aquecer,
Proporcionam-nos prazer,
As árvores, lindas frondosas.
Árvores, bem hajam elas,
P´las belíssimas imagens,
Que nos dão suas paisagens,
As árvores, que são tão belas.
Manuel Pires Nunes
Maio 2021
Álvaro
Se eu vir aquela árvore como toda a gente a vê, não tenho nada a dizer sobre aquela árvore. Não vi aquela árvore. É quando a árvore desencadeia em mim uma série conexa de emoções que a vejo diferente e justa. E na proporção em que essas ideias e emoções forem aceitáveis a toda a gente, e não só individuais, a árvore será A Árvore.
Álvaro de Campos
Carlos
Era uma árvore no passeio
e fosse tempo claro ou feio,
havia uma paz de agasalho
dependurada em cada galho.E foi vivendo. Viver gasta
músculo e flama de ginasta,
quanto mais uma arvorezinha
meio garota-de-sombrinha.
Carlos Drummond de Andrade
Cecília
Se eu tivesse um pomar, um pequeno pomar que fosse,
não
lhe poria grade à roda como os outros proprietários.
Não poria a guardá-lo, um desses cães enormes,
rancorosos,
que andam sempre rondando os pomares...
O meu pomar seria assim: todo aberto, para
todos.
E, quando o outono chegasse e as árvores ficassem cheias de frutos amarelos e vermelhos,
nenhum pobrezinho teria fome
nenhuma
criança choraria de sede, passando pelo meu pomar...
E, no inverno, ainda haveria lá onde alguém se
abrigasse,
quando chovesse muito ou fizesse muito frio...
Se eu tivesse um pomar, ele estaria sempre em
festa,
cheio de borboletas e pássaros...
Como eu seria feliz, se tivesse um pomar!
Cecília Meireles
Dinis
- Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs conmigo?
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi há jurado?
Ai Deus, e u é?
- Vós me preguntades polo voss'amigo
e eu bem vos digo que é san'e vivo.
Ai Deus, e u é?
- Vós me preguntades polo voss'amado
e eu bem vos digo que é viv'e sano.
Ai Deus, e u é?
- E eu bem vos digo que é san'e vivo
e será vosco ant'o prazo saído.
Ai Deus, e u é?
- E eu bem vos digo que é viv'e sano
e será vosc[o] ant'o prazo passado.
Ai Deus, e u é?
D. Dinis
(retirado de https://cantigas.fcsh.unl.pt/versoesmusicais.asp?cdcant=592&vm10=155&vm11=156&vm12=157&vm13=158&vm14=159&vm15=160&vm16=161&vm17=162&vm18=163&vm20=273&vm21=274
Miguel
As ideias são como as plantas: têm o seu clima e a sua
terra. Por mais que se diga, o eucalipto será sempre
exótico na paisagem portuguesa.
Miguel Torga
Nuno
Havia uma árvore no caminho para a escola
de que nunca soube o nome. Era uma árvore
que ficava no caminho para a escola, e
o facto de não ter nome fazia-me parar,
quando ia para a escola, em frente da
árvore sem nome. Havia uma árvore
que tinha flores na primavera e perdia
as folhas no outono, e embora eu soubesse
que era primavera quando o perfume
das suas flores inundava o ar, e que
era outono quando pisava o chão cheio
das suas folhas, nunca soube que nome
tinha aquela árvore. No verão a sua sombra
refrescava-me, no inverno tinha de fugir
para não apanhar a chuva que escorria
dos seus ramos. Podia chamar-lhe a árvore
da primavera no outono, e a árvore
do inverno na primavera, e isso far-me-ia
lembrar, ao ir para a escola, que o tempo
passa como as flores e os anos caem como
as folhas. Não sei se a árvore sem nome
continua no caminho para a escola, que
nunca mais fiz desde que acabei a escola;
mas ainda sinto o seu perfume, no inverno,
e procuro o abrigo dos seus ramos secos,
na primavera, como se o tempo andasse
ao contrário e a árvore sem nome ainda
estivesse de pé, à minha frente, para
que eu perguntasse que árvore é aquela,
e a passagem do tempo tivesse o seu nome.
Nuno Júdice
Ruy
Os pássaros nascem na ponta das árvores
As árvores que eu vejo em vez de fruto dão pássaros
Os pássaros são o fruto mais vivo das árvores
Os pássaros começam onde as árvores acabam
Os pássaros fazem cantar as árvores
Ao chegar aos pássaros as árvores engrossam movimentam-se
deixam o reino vegetal para passar a pertencer ao reino animal
Como pássaros poisam as folhas na terra
quando o outono desce veladamente sobre os campos
Gostaria de dizer que os pássaros emanam das árvores
mas deixo essa forma de dizer ao romancista
é complicada e não se dá bem na poesia
não foi ainda isolada da filosofia
Eu amo as árvores principalmente as que dão pássaros
Quem é que lá os pendura nos ramos?
De quem é a mão a inúmera mão?
Eu passo e muda-se-me o coração
Ruy Belo
Sebastião
Deus disse:
"O Zambujeiro nasça".
Viril, rompeu da terra o Zambujeiro.
O tronco é o dum homem das montanhas.
São mãos de cavador seus ramos. Só as folhas,
Delicadas, suaves... Pela noite,
Quando tudo se cala, mesmo os pássaros,
O Zambujeiro canta...
Sebastião da Gama
Miguel
Sereno, o parque espera.
Mostra os braços cortados,
E sonha a primavera
Com seus olhos gelados
É um mundo que há-de vir
Naquela fé dormente;
Um sonho que há-de abrir
Em ninhos e semente.
Basta que um novo Sol
Desça do velho céu,
E diga ao rouxinol
Que a vida não morreu.
... seria uma palmeira porque a acho bonita. (Alison)
... seria uma magnólia porque gosto das suas flores cor-de-rosa. (Beatriz)
... seria uma amoreira porque a amoreira dá frutos muito bons que são as amoras.(David S.)
... seria um eucalipto porque é alto e está sempre ao pé do mar, no litoral. (David G.)
... seria uma paineira (oriunda da América do Sul) porque é bonita e também porque é uma árvore grande.(Elizabete)
... seria uma cerejeira porque é uma das minhas árvores favoritas.(Ema)
... seria uma palmeira porque acho que ela é uma árvore bonita. (Erica)
... seria uma cerejeira porque dá a minha fruta favorita.(Fábio)
... seria uma araucária porque é muito alta.(Gabriela)
.. seria um pinheiro porque nunca perde a sua beleza, tanto no verão, como na primavera, outono e inverno.(Graziela)
... seria uma laranjeira porque o fruto é a laranja e eu gosto muito.(Joana)
... seria um pinheiro porque gosto muito de pinheiros.(Mariana D.)
... seria um pessegueiro porque a fruta é o pêssego, é bom e eu gosto muito. (Mariana G.)
... seria uma macieira porque gosto de maçãs.(Mauro)
.... seria uma palmeira porque está sempre no topo.(Rafael)
... seria uma olaia porque é uma árvore de amor e exala beleza.(Raíssa)
... seria um eucalipto porque a árvore é muito alta.(Rodrigo)
... seria uma laranjeira porque gosto de laranjas.(Tiago)
... seria uma palmeira porque é uma árvore tropical. (Vítor) ----- 7º A - 2021
... seria uma pereira porque é o meu terceiro nome e tem uma cor bonita. (Bianca)
... seria uma árvore de um jardim de seres humanos ricos porque dessa forma eu estaria sempre em bons ambientes e livre de perigo. (Cristina)
... seria um chorão porque eu choro muito. (Diana)
... seria uma laranjeira porque estaria cheia de frutos no verão e porque adoro laranjas. (Eduardo)
... seria um pinheiro porque tenho a palavra "pinheiro" no meu nome. (Henrique)
... seria uma videira porque gosto de marcar o meu território e também gosto da fruta que ela dá. (Jailson)
... seria um abacateiro porque gosto muito da sua cor e fo eurma. (Letícia)
... seria uma cerejeira porque tem uma flor bonita. (Margarida)
... seria uma papaeira porque adoro papaia pela sua doçura. (Madalena)
... seria um plátano porque quando fosse grande e velho teria muitas pessoas para me fazerem companhia debaixo da minha sombra. (Mª Teresa)
... seria uma olaia porque além de ser a minha árvore favorita é a árvore do amor. (Martim)
... seria uma das mais altas para toda a gente ver a minha beleza. (Miguel)
... seria um pinheiro porque gosto de ser grande. (Nilton)
... seria uma palmeira porque é alta e podia ver tudo à minha volta. (Pedro)
... seria um coqueiro porque gosto muito da vista do mar. (Rodrigo O.)
... seria um pinheiro porque é alto e eu também quero ser alto e também porque a folha é bonita e gosto do fruto. (Rodrigo F.)
... seria um pinheiro porque é grande, escuro, alto e muito bonito. (Levi) ----- 7ºB - 2021
... seria um eucalipto porque é uma árvore grande e tem cheiro agradável. (Alexandre)
... seria uma macieira porque gosto muito de maçãs. (Aliny)
... seria uma amoreira porque dá uma fruta que eu gosto muito. (Rodrigo V.)
... seria uma macieira porque dá uma das minhas frutas preferidas. (Beatriz F.)
... seria uma cerejeira porque dá cerejas, fruta que eu adoro e as suas flores são muito bonitas. (Beatriz R.)
... seria uma oliveira porque esta árvore, dependendo da variedade, chega a ter 20 metros de altura e porque produz azeitonas. (Carolina F.)
... seria um sobreiro porque gosto de como é feita a cortiça. (Francisco)
... seria uma pereira porque o apelido da minha família é Pereira. (Gabriel)
... seria uma oliveira porque eu gosto dela. (Inês)
... seria uma figueira porque dá figos e eu gosto muito deles e acho-os lindos. (Mariana)
... seria um pinheiro para me proteger porque tem espinhos. (Oleksey)
... seria um pinheiro porque gosto dos bichos do pinheiro, da forma das folhas (agulhas) e gosto de apanhar pinhões. (Rodrigo L.)
... seria uma palmeira porque é muito bonita e importante para o planeta terra. (Rui)
... seria uma nespereira porque dá nêsperas e elas são muito doces. (Jingyi)
... seria uma sakura (cerejeira) porque é de origem japonesa e eu gosto da cultura japonesa. (Francisco)
... seria uma videira porque adoro as uvas e acho-as bonitas. (Liara)
7º H - 2021